domingo, 2 de setembro de 2012

Elena - Capítulo III


“Oi, então, chegou seu presente aqui, lindo o colar, gostei muito, parece que tem uns cem anos mas ainda assim é lindo, talvez eu use na festa da minha amiga Amanda, ela faz aniversário semana que vem, vai debutar.
Você me perguntou como eu sou, bem é difícil dizer, eu não sou boa com auto descrição, então pedi pra Amanda, minha melhor amiga, me dizer como ela acha que eu sou, ela me descreveu como uma boa amiga, sincera e sempre na minha, não sou do tipo que tem um monte de amigos... Bem na real tenho a Amanda e o Artur e a minha mãe que não conta, tenho o meu cachorro Tequila, os meus dindos e acho que só isso. Eu toco numa banda, me dou bem com todos os meninos mas não somos melhores amigos, o Artur toca comigo é guitarrista e eu sou voz e baixo, a Amanda é tecladista e tem mais o baterista se chama Rafael e vivo incomodando ele, o outro guitarrista e meio sinistro, ele é gótico, chamasse Bruno. Tocamos sempre nas festas da escola e em alguns eventos no clube da cidade, temos até um fã clube, vou te mandar uns links de uns shows nossos, vê se você vai curtir, também componho todas as músicas da banda, estamos a 2 anos juntos e nunca nos separamos nesses anos . Mesma formação, mesmas regras.
Eu sou como a Amanda diz bem na minha, costumo andar com meu caderno pra cima e pra baixo, hora desenhando, hora compondo, se não to com a Amanda to com o Artur. Não tenho inimigos, sou boa aluna, ajudo todo mundo que precisa de mim, mas também não saio por ai oferecendo ajuda, sabe? Sou tímida, envergonhada. Até porque já chamo muita atenção com a banda e o vôlei. Esqueci do vôlei, jogo no time da escola, estamos no campeonato estadual . Mas é isso, não sou uma pessoa super emocionante, tenho uma vida comum, fora a banda sou só mais uma aluna da escola, uma vizinha do bairro e uma adolescente em casa, só que não sou rebelde e não do tantos problemas pra minha mãe, só a mãe que me dá problemas, agora até que não, mas antes vivíamos mudando, faz dois anos que moramos em Porto Alegre, mas já morei numas 5 cidades nos últimos 8 anos, foi bem difícil mudar de escola e fazer amigos, a mãe explicava que precisava pra poder ganhar mais dinheiro, quando conseguiu ser promovida pra juíza ficou aqui em Porto mesmo, eu preferia ter ficado em São Borja que era mais calmo, mas a mãe disse que era um lugar mais limitado sem oportunidades, na época também eu tava virando mocinha e descobrindo essas coisas de amor, eu tinha me apaixonado e tive que vir embora, foi difícil, agora entendo que era nova que passa, que sempre passa e que vou me apaixonar muitas vezes ainda até ter um amor que nem o teu e o da mãe, assim pra sempre.
Sabe, quando eu tinha uns 7 anos, eu tava acho que na 2º série, teve uma apresentação na escola e era de dia dos Pais, daí o Vovô foi. Quando nós chegamos a minha colega me disse : “seu pai é velhinho né?”, eu respondi: “não é meu pai, é meu avô”, ela me olho uns instantes e respondeu novamente “tadinha de você não tem papai, que triste, se quiser empresto o meu”,  nossa fiquei arrasada, pedi pro Vovô me levar embora, chegando em casa eu perguntei porque não tinha papai, foi a primeira vez que ouvi a frase que me perseguiu a vida toda: “quando você tiver idade pra entender você vai saber de toda a verdade a minha filha, mas você tem pai sim, ele não está aqui mas ele existe ok?”.
Na época eu fiquei confusa e demorei uns anos pra entender eu confesso, mas, lá pelos 11 caiu a ficha, na verdade comecei a achar que você tinha morrido, depois que tinha abandonado a mãe, e daí criei uma série de versões de como vocês se conheceram, se afastaram, porque se afastaram, era confuso, difícil aceitar que não tinha pai, eu tinha inveja das minhas colegas, odiava o dia dos pais, natal, qualquer coisa que pudesse lembrar família reunida, com pai , mãe e filhos.
Eu sei que eu era infantil, mas foi o jeito que achei de me defender, depois quando passou um tempo o dindo me chamou pra conversar e me disse que eu tinha que para de fazer especulações, que a história era muito triste e que tudo foi feito pra me proteger e que eu saberia um dia. Que tinha que confiar na minha mãe. Entendi que tudo tinha uma hora, que teria que aguardar a minha, virei essa pagina e fui viver. Foi melhor assim, bem melhor, me livrei de pensamentos atormentadores. Mas principalmente da raiva que tava acumulando dentro de mim, raiva desnecessária. Hoje sou mais leve, o tempo passou e não senti falta desta história, as vezes pensava mas de maneira menos agressiva, sabia que chegaria mais cedo ou mais tarde, parei de esperar simplesmente e... Chegou. Acho que a mãe escolheu o momento certo. Eu não tenho mais medo, raiva, dúvidas... Tenho curiosidade admito, de conhecê-lo, de saber desta parte da minha história, mas não julgo ninguém.
Só tenho uma dúvida, eu tenho uma grande curiosidade em conhecê-lo, e você tem também de me conhecer?
                                                                   De sua filha, Elena.”
-Bom dia mãe.
-Bom dia filha.
Alguns minutos de silêncio. Ana olha atenta enquanto Elena da comida para o cachorro Tequila.
-Lindinho da mamãe, gordo fofucho, vai virar uma bolinha assim, vamos correr hoje tá? – Elena fala pra Tequila.
-Filha, tem falado com seu pai?
-Aham...
-E?
-E o que?
-Como assim? O Que você tem falado com ele?
-Nada de mais mãe, coisas.
-Você não vai guardar segredos pra mim agora né?
-Ai mãe, não! Não pira! A gente tá se conhecendo, ele fala dele ele e eu de mim.
-Hum... E... O que ele disse dele?
-Nada demais, disse como a vida dele está hoje.
-Hum... Está bem espero.
-Mais ou menos, está se separando.
Ana meio que engasga. Tosse um pouco. Elena pega um pouco de água e alcança a mãe.
-Credo mãe, ta parecendo criança se afogando com pão.
-Acontece filha, mas continue, ele esta se separando?
-Sim, assim na verdade, ele já se separou faz uns 8 meses parece, agora falta o divórcio, mas não sei quando sai.
-Hum... E ele disse por que se separou?
-Não.
-Hum...
-Mas porque quer saber mãe?
-Não, nada, curiosidade... Só curiosidade.
-Aham... Ok, eu tenho ensaio hoje, posso dormir na Amanda?
-Pode sim.
-Vai sair?
-A sim vou, vou ao seu avô.
-Tá manda um beijo pra ele.
-Amanha esteja em casa as onze, vamos fazer um almoço, seus dindos vêm pra cá.
-Tá bom beijo.
Elena beija a mãe e sai correndo para a casa da amiga. Enquanto isso Ana só consegue pensar em uma coisa, Vitor está separado.

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