quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Elena - Capítulo IV


“Oi, sabe é engraçado ler a sua auto descrição, me lembra de uma pessoa: eu mesmo, só que na adolescência, eu era exatamente igual, também tinha uma banda, por falar nisso vi o link com os shows, vocês fazem um grupo bem interessante e você canta e toca muito bem. Mas posso dar uma pequena sugestão, erga a cabeça, você tem um sorriso lindo e parece tão escondida e encabulada no palco, mas parece ter um potencial  tão grande.
Sobre o colar, sim ele tem mais de 100 anos mesmo, era da minha avó, meu avo fez pra ela em 1881, presente de casamento. È uma joia de família, apenas as mulheres primogênitas recebem os filhos primogênitos quando não nasce mulheres naquela geração, meu caso. Minha ex-esposa me cobrou a anos que eu desse a Alice, mas nunca pertenceu a ela, sempre foi seu, mas nunca pude lhe contar a verdade, ela nunca aceitaria, mas agora está com você e fico feliz que você já pretende usá-lo. Pena não poder ter a honra de por em seu delicado pescoço. Você já escolheu o vestido? Se precisar de ajuda to te enviando o site da minha amiga em Porto, ela já está avisada que irá, escolha o que quiser não se preocupe com o valor, eu irei pagar. Pegue o endereço e diga que é minha filha, ela irá lhe orientar.
Você havia me perguntado mais alguma coisa... Não consigo lembrar... Há sim lembrei, se eu quero conhecê-la? Bom, primeiro teríamos que conversar com sua mãe, jurei a ela que jamais faria algo sem o consentimento dela, mas é de meu desejo sim, você acha que nós poderíamos providenciar isso?.
                                                                Do seu pai, Vitor.”

-E agora Amanda?
-Ele quer te conhecer.
-Eu sei, mas não sei se a mãe vai deixar né?
-Olha, a tia Ana é tri, acho que ela vai liberar, mas conversa com calma.
-É... Mas deixa te contar uma coisa que esqueci.
-O que? Fala logo?
-Hoje no café da manhã a mãe perguntou se eu tava falando com o Vitor, Pai, eu ainda não sei como chama-lo.
-Normal, chama de Vitor, depois aos poucos né?
-Melhor, também acho. Então, ela queria saber como ia a vida dele, quando disse que ele se separou tu acredita que ela se engasgou?
-Como assim, não entendi?
-Ai sua tonta, ela tipo chocou sabe, como se ela tivesse tido um raio de esperança, assim, nos e-mails do Vitor ele me afirmou que ama a mãe, mas ela nunca me disse o que sente por ele.
-Você acha...
-Ainda não tenho certeza, mas, que ela ficou balançada... Isso ela ficou, tenho certeza.
-E o que esse cérebro borbulhante ta planejando?
-Na verdade enquanto não tiver certeza não posso fazer nada, mas quando eu tiver, eu acho que vou dar uma mãozinha.
-Eu acho que você não tem que se meter.
-Não vou fazer nada de mais, só fazer com que se encontrem, se eles se gostarem, o resto acontece naturalmente.
-Bom, sabe né amiga, você sempre vai ter eu aqui se precisar.
-Eu sei por isso te amo.

Enquanto isso na casa do pai de Ana.
-Então ele está separado minha filha?
-Sim pai.
-E o que você está sentindo sobre isso?
-Como assim, não to sentindo nada, por que sentiria algo, eu não tenho por que sentir, não há motivos, que besteira.
-Então por que está nervosa e respondendo desta maneira? Falando tão rápido?
-Bobagem pai. Vou tomar mais uma taça de vinho.
-Hum... Acho que no fundo meu anjo, nestes anos todos você nunca o esqueceu...
-Claro que o esqueci!
-Então porque nunca se casou, namorou, nunca te vi com ninguém?
-Eu sou apenas discreta.
-Então qual o nome do seu ultimo namorado?
Alice olha fixamente para o pai, durante alguns segundos pensou com um rosto tenso, ate começar a se tapar de tristeza e as lágrimas invadirem os seus olhos, ela foi abaixando o olhar e lembrando que está a 16 anos impondo barreiras para que ninguém se aproxime, pois acreditou que assim não se magoaria, mas na verdade talvez estivesse apenas se guardando, se guardando para ele.
-Venha cá minha filha, nunca se é velho o bastante para receber um colo de pai.
-Papai...
Ana senta no colo do pai e chora compulsivamente, como pode não perceber o quanto amava a Vitor, porque ela guardou este sentimento, porque nunca se deixou envolver, nunca se permitiu? Ela merecia ser feliz e sabia disso, mas agora a situação havia mudado, será que ela podia sonhar com uma possibilidade, ela não podia esperar que ele sentisse o mesmo.
Ela podia se dar o direito a essas esperanças...
-Eu tenho que ir pai.
-Aonde você vai filha?
-Preciso pensar, ficar sozinha, ligo depois.
Ana caminha até o Gasômetro, olha o rio, observa as pessoas, os casais, senta-se no gramado e assiste o por do sol, enquanto as lágrimas escorrem do seu rosto, sua vontade é ligar para Vitor, pedir para vê-lo, mas sabe que não pode agir como se tivesse a idade de Elena, sua cabeça está confusa, desorientada, ela quer fugir, ficar só, chorar... Precisa encontrar seu centro novamente.


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