Assinei meu divórcio hoje, oficialmente estou solteiro na
lei dos homens, achei que ia ser mais difícil, mas sabe que até que não foi?
Minha ex, bom, acho que pôs a mão na cabeça e viu que eu só
quero o melhor pra ela e pras crianças, eu gostei muito dela e que não quero
deixa-la de maneira alguma desamparada e vou estar sempre a disposição. Sabe,
tinha que ver, na hora do divórcio parecíamos velhos amigos fechando uma
sociedade, foi bom, saudável. Depois fomos almoçar com as crianças, eles não
entendem ainda o que está acontecendo, mas com o tempo... Disse pra ela que
algumas coisas mudariam que eu estava correndo atrás da minha felicidade, ela
me desejou boa sorte, disse que torcia por mim, fiquei emocionado, não estava
esperando, a seis meses atrás estávamos brigando tanto que quando nos víamos era
só gritaria, agora, nos desejamos sorte e torcemos pela felicidade um do outro,
isso é bom, era assim que eu imaginava poder terminar um relacionamento que
durante tantos anos me trouxe tantas alegrias.
Mas bem, trocando de assunto, falei semana passada com a
Glória, minha amiga da loja, ela me contou muito querida que a senhorita é
muito linda, meiga e cheia de atitude, fiquei orgulhoso dos elogios, disse que
você olhou a loja inteira com muito cuidado e escolheu uma peça que combinasse
com o colar que te dei, que até chegou a olhar outros vestidos, mas não
combinavam com o colar e deixou eles de lado, e no fim o vestido que escolheu lhe
caiu como uma luva e ficou lindo, pela foto que você me mandou ficou mesmo,
espero que tenha gostado e se divertido na festa de sua amiga.
Sobre a sua mãe, pensei muito sobre o que você escreveu pra mim
no ultimo e-mail, só posso lhe responder de uma única forma minha filha: Papai
está se mudando para Porto alegre, chego dia 24 no voo das 17:30.
Do seu pai, Vitor”
-Meu Deus, tu leu a ultima parte Elena?
-Li Amanda...
-E?
-Eu não sei o que dizer...
Elena sai da frente do computador e se senta na cama, em
choque, fica pensando se conta pra sua mãe ou se não fala nada, se vai busca-lo
na chegada...
-Que dia é hoje mesmo? – Pergunta Elena
-Dia 22 Elena. Você vai falar pra sua mãe?
-Eu não sei. Acho que vou falar com meu dindo, ele vai poder
me ajudar nisso.
-Também acho.
Elena se despede de Amanda e vai pra casa, chegando vê sua
mãe na varanda conversando com Julio.
-E ai princesa, isso são horas de chegar em casa?
-É que eu fui na Amanda depois do vôlei..
-Aham, se, Será que Amanda é o nome do seu novo namoradinho?
-Ai dindo não começa, já disse que eu não to namorando!
-Ta bom.
-Dindo agente pode conversar, só nos dois?
-Claro.
-Hum, cheios de segredos então? – Diz Ana.
-Coisas de adolescente, você não entende por que já nasceu
velha. – Diz Julio.
-Realmente, você é uma eterna criança. – Diz Ana
-Adolescente! - Diz Julio
-Da no mesmo.
-Vamos dindo. – Diz Elena Irritada com as piadinhas da mãe.
Elena puxa Julio pelo braço e sobe as escadas correndo, liga
o computador, loga-se no e-mail, vira a tela em direção a Julio e pede pra ele
ler.
-Hiiiii! Ai meu Deus!
-O que você acha?
-Me deixa ler todos os e-mails?
Elena põe toda a conversa dos e-mails para Julio, ele lê
atentamente, suspira.
-Tua mãe já leu isso Elena?
-Claro que não né, tá loco? Ela morria!
-Dois dias... Acho que de repente ela deveria ler. O que tu
acha?
-Ai dindo não sei, a mãe já tá surtando, imagina se ela lê
estes e-mails...
-Tu sabe por que ela tá surtando?
-Sei, quer dizer eu acho que sei...
-Ela descobriu que gosta do teu pai e acha que não vai ser
correspondida.
-Há fala sério!
-To falando sério, mesmo, faz muito tempo e sua mãe é durona
e acha que ele a esqueceu.
-Bom, durona ela é mesmo... O que será que acontece se a
gente mostrar isso pra ela?
-Só tem um jeito de descobrir, pequena.
Julio liga a impressora, põem folhas brancas, imprime os e-mails,
grampeia e vai em direção à porta.
-Peraí, tu vai mostrar agora dindo?!
-O Vitor vai chegar em dois dias, tu quer esperar quanto
tempo mais pra mostrar os e-mails?
-Bom neste caso, eu vou dar uma banda, não quero ta perto
quando ela quebrar a casa inteira.
Julio da uma gargalhada.
-Tá bom, vai levar o Tequila pra passear assim ela não
desconfia.
Elena desce correndo, põem a coleira no cachorro e sai o
mais rápido o possível. Ana olha Elena.
-Eu tenho que brigar todos os dias pra essa guria sair com o
Tequila, o que deu nela pra ela ir tão cedo passear com o cachorro? To vendo
que minha carteira vai arcar com esta boa vontade. Quer um café? Acabei de
passar. O que é isso?
-Quero. Pra você, gostaria que desse uma olhada, por favor.
-Mas o que é?
-Leia.
Ana pega seu café, sentasse na sala e começa a ler, enquanto
Julio a observa, aos poucos sua expressão muda de surpresa pra raiva, de raiva
pra tristeza de tristeza pra desespero e novamente para surpresa, enquanto as
lágrimas cobrem o seu rosto.
-Isso só pode ser brincadeira.
-Não, não é brincadeira é a mais pura verdade.
Julio se senta ao lado de Ana.
-Tu acha que eu poderia me permitir?
-Deus por que tu deixa o mais difícil pra mim? – Diz Julio
olhando pra cima e com a s mão na cabeça. – Claro Aninha, tu quer ler de novo,
assim quem sabe tu entende?
-Não é tão simples.
-Não? Como não é, mas é claro que é, quer que eu faça um
desenho?
-Você acha que eu vou fazer o que? Vou sair que nem uma
louca pro shopping, comprar roupas, sapatos, ir ao salão de beleza, fala sério
Julio, não faz meu tipo.
-Por que não? O que tem errado em ser feliz, tu tá à 16 anos
sozinha se escondendo atrás destas tuas roupas de lésbica.
-Não me visto que nem lésbica!
Julio olha com expressão séria para Ana.
-Talvez um pouquinho... Mas minha profissão me exige certa
seriedade.
Julio continua a olhar sério para Ana.
-Ai Julio...
-Não Ana desculpa, mas, olha pra ti, tu é linda, se eu não
fosse casado e apaixonado pela minha mulher á 20 anos com certeza te chamava
pra sair, mas claro que não com essas roupas de lésbica.
Ana ri.
-É né, talvez seja verdade.
-Olha se quiser eu peço pra Bruna ir com você no shopping,
que você acha?
-A Bruna é muito perua, vou parecer uma arvore de natal.
-Tu tá é com medo de gostar isso sim, amanhã quando tu sair
do trabalho eu passo lá e te pego pra levar as duas no shopping. Eu e a Elena
vamos fazer umas comprinhas também, mas pra ela que ela já me reclamou que o
roller dela ta pequeno, e também eu gosto de mimá-la.
-Obrigado.
-Não agradece a mim, mas a tua filha, a responsável por isso
tudo é ela caso tu não tenha percebido.
-É, minha filha só me dá orgulho.
-Que nem a mãe dela...
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