quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Elena - Capiltulo IX

 Ana olha o relógio, 2 e 15 da madrugada, um relâmpago a assusta, ela sempre odiou relâmpagos, se levanta, vai ao banheiro, liga a luz, se olha no espelho,lava o rosto e a nuca. Volta pra cama, outro relâmpago, vai a janela, fecha o vidro, antes percebe que a luz da sala no andar de baixo esta ligada. Pé por pé desce as escadas e percebe que Vitor esta na varanda da cozinha, sentado no chão, fumando, tomando o cafe que ela preparou pra ele, ela se senta nas escadas, fica o olhando, pensando, ele nao mudou nada nos últimos anos, na verdade, esta mais bonito, mais forte, parece mais maduro, calmo, antigamente era impulsivo e um tanto explosivo. Agora fala com ar doce, conquistador, como se sempre soubesse o que esta fazendo, irresistivel, talves ele se tornara o que ela desejava, as coisas que ela tanto reclamou no passado foi justamente o que ele veio melhorando estes anos todos, mas sera que as coisas que ele tinha que mais a agradavam permaneciam? A simplicidade, o dinamismo, a falta de vergonha na hora de falar o que pensava, a persistência, a coragem, tudo que ela não era.
Talvez ela também amasse aqueles defeitos tanto quanto as qualidades, o conjunto todo era perfeito, e ela sentia muita saudade, sentia falta do toque dele, falta de ser amada, da liberdade que sentia em seus braços e que só com ele sentiu, com ninguém mais. Ana se levanta, descalça, esta vestida com uma camiseta branca, cabelos um pouco escabelada, ainda não tirou a maquiagem, mesmo assim não esta borrada.
-Sera que ainda tem cafe, ou você já tomou tudo?
Vitor se assusta, olha pra trás, ele somente com um jeans e também descalço, acompanhado de sua carteira de cigarro e isqueiro, cabelos desarrumados. Se levanta quando a vê. O olhar de desejo entre os dois e inevitável.
-Talvez você tenha que fazer um pouco mais, sem sono, ou os relâmpagos?
Ana sorri.
-Tu no esqueceu?
-Sempre lembro de você quando chove.
-Vou passar mais cafe.
Ela poem mais cafe pra passar, enquanto prepara, Vitor se senta novamente, fica admirando sua amada, ela serve o cafe em duas xícaras, as duas sem açúcar, como ambos gostam.
-Sem açúcar.
-Você também não esqueceu.
-Fica difícil quando e o mesmo gosto que o meu.
Vitor pega um cigarro.
-Por um acaso você se importa?
-Não, mas me de um também.
-Ainda fuma?
-Velhos abitos agente nunca perde.
-Você continua linda, todos esses anos, como o vinho, só te fizeram bem.
-Você continua um galentiador, só que mais velho.
Os dois dão risada, Vitor passa a mão sobre os cabelos de Ana, eles se olham longamente.
-Sabe Ana, quando eu soube que você estava aqui, sozinha, depois de todos estes anos, a única coisa que eu quis foi vir pra cá e tê-la nos meus braços novamente. Mas tive medo que você não me amasse mais.
-E foi por isso que você voltou?
-Também, foi por você e pela Elena. Vocês duas guardam uma parte minha do passado que não existe mais, quando olho pra vocês lembro que eu já fui feliz, eu penso em ser de novo, como se eu conseguisse ao lado de vocês ser eu mesmo, como se minha mascara caísse e fosse o Vitor de verdade, vocês trazem o melhor de mim vir a tona, principalmente a Elena, ela me faz querer ser melhor. E você, você mas faz querer ser feliz. Por isso pedi pra me transferir pra cá.
-Não sabia que tinha pedido transferência, achei que tivesse sido uma transferência do acaso.
-Não Ana, não foi o acaso, foi o amor que guardo pelas duas que me trouxe ate aqui.
-E seus filhos, eles estão no Rio, e você esta aqui, estão acostumados com você perto.
-Na verdade, quase não vejo meus filhos, por causa do meu trabalho, o bom de ter me separado e que agora tenho tempo pra eles, a cada quinze dias passo o fim de semana inteiro com eles e e maravilhoso. Aproveito de verdade. Estando aqui vou pra la a cada 15 dias passo o fim de semana e volto, ja combinei com minha ex, ela e eu acordamos sobre isso.
-Que bom.
-De certa forma as coisas se encaminharam pra que tudo desse certo e eu pudesse vir pra cá no momento certo, ate o apartamento que aluguei atrasou, e vim logo pra sua casa, pra você ver como o destino tem suas surpresas, talvez ele queira que fiquemos juntos.
-Você acha mesmo que e isso que vai acontecer no final, que iremos ficar juntos, esquecer tudo que aconteceu?
-Talvez, não esqueçamos, mas tem maneiras bem razoáveis de superar, compreender...
-Hum... me diga como seria possivel?
-Eu te amo Ana, sempre te amei, sempre vou te amar, não existe magoas nem ressentimentos, só lembranças boas ou ruins, mas lembranças, cultivo as boas, deixo de lado as ruins...
-Maneira interessante de superar...
-O que me impede de te beijar agora?
-Na verdade nada, mas você poderia correr riscos.
-Quais seriam?
-Você não vai poder voltar atrás depois nesta decisão.
Vitor a beija intensamente. Ana se entrega sem exitar, ela sabe que talvez seja a única chance de ser feliz. Ele a levanta, a pega no colo, leva para o quarto, e entre os relâmpagos e a chuva da madrugada, depois de 16 anos, eles tem sua tão esperada noite de amor.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Elena - Capitulo VIII

-Bom Julio, obrigado por ter vindo com a Elena me buscar.
-Capaz cara, sem problemas.
-A uns anos atrás eu te julguei mal.
-Andei sabendo, mas não te preocupa, são coisas da vida, e a vida sabe o que faz, não é mesmo?
-Deve saber, deve saber.
-Então, o que tu ta afim de comer?
-Olha pra te ser bem sincero, faz um tempo que não como um bom e velho churrasco gaúcho, será que seria muito eu querer pedir? Qualquer coisa vamos numa churrascaria, fica mais fácil e não faz tanta bagunça.
-Mas bem capaz, tu ta falando com o melhor assador do Rio Grande do Sul. Hoje tu vai comer a melhor picanha, maminha e salsichão da tua vida, gosta de chimarrão?
-Gosto.
-Então ta feito, Elena avisa tua mão que vamos passar no mercado e comprar as coisas, elas vão fazendo um chimarrão que logo estamos chegando na casa dela.
-Dindo, tu faz coração?
-Faço pequena, o que eu não faço pra ti?
Elena liga pra mãe.
-Churrasco? Como assim? Já tão chegando no mercado? Ai meu deus...
-Que foi Ana? -Indaga Bianca.
-Era só o que me faltava, isso literalmente virou uma janta de família, ou melhor de compadre, com direito a churrasco e chimarrão!
Bianca começa a rir.
-Não tem graça Bi.
-Ana, que bom, logo ele vai ter que se acostumar com a família mesmo...
-Ai não começa.
-Tu que não começa, o bom que eles vão demorar uns 20 minutinhos, tempo de você trocar de roupa.
-De novo? Pra que?
-Ele já te viu com essa né?
-E dai?
-Ai meu deus? Vou ter que te explicar tudo?
Ana e Bianca chegam a casa de Ana, Ana esta nervosa, tensa, ansiosa, não sabe como agir, não esperava se ver naquela situação, Bianca a faz trocar de roupa, mas pelo menos ela põem uma roupa mais confortável, uma calça jeans e uma regata, mas com decote, o que faz ela fazer uma cara feia pra Bianca, não que Bianca se abata. Bianca procura em suas coisas um colar mais pesado pra colar em Ana e uma pulseira.
Ana reclama e Bianca a manda calar a boca. Refaz a maquiagem, prende seu cabelo numa trança levemente solta. A vira para o espelho.
-Viu como você esta linda?
-Ate que não é de todo mal.
-Nossa, quanta emoção em tuas palavras, mais vida ai por favor Ana, acho que eles tão chegando, e a água deve ta fervendo vamos descer.
Eles descem, Ana começa a preparar o chimarrão enquanto Bianca ajuda com as compras.
-Pai vamos colocar suas malas no meu quarto. - Sobe Elena correndo.
Ana se apavora. Ela corre pra escada.
-Filha, como assim.
-Eu disse que era melhor conversar com sua mãe Elena. - Diz Vitor
-Mãe, o apartamento novo do pai só vai ser entregue na segunda então disse que ele poderia ficar aqui no findi. - Diz Elena entusiasmada.
-Sim Elena não e uma ótima ideia, não seria delicado que ele ficasse num hotel. -Diz Julio sorrindo.
-Apartamento, mas achei que fosse ficar num hotel?
-Eu vou morar em Porto Alegre, por um tempo, fui transferido. - Diz Vitor.
-Que bom... - Diz Ana.
-Legal né mãe vou subir, por as malas no meu quarto, depois arrumo o quarto de hospedes, prometo. - Elena sobe gritando.
-Ta bom filha, eu acho.
-Ana, se for muito transtorno, eu vou para um hotel.
-De maneira alguma, esta casa esta a sua disposição fique a vontade. -Dispara Bianca puxando-o para o sofá. -Quer um chimarrão? Ta quente.
Ana fica parada na frente da escada sem esboçar reação, Julio a puxa pelo braço sorrindo para Vitor enquanto a leva para a cozinha.
-Que foi Aninha?
-Vocês armaram tudo isso pelas minhas costas?
-Não, agente ta te ajudando.
-Não preciso da ajuda de vocês. Sei me virar sozinha. - Diz Ana sussurrando.
-Por isso ta sozinha nos últimos 16 anos?
-Olha isso e problema meu, eu não quero ajuda.
-Quer sim, só não quer admitir, agora corta as batatas e faz a melhor maionese da tua vida. Eu irei fazer o churrasco.
-Como você pode?
-Ana, eu te amo, mas se continuar com esta frescura, eu pego esta faca e ponho a tua picanha na churrasqueira.
Ana ri, eles se abraçam.
-Isso vai dar certo?
-Não sei, se tu parar e começar a tentar ao invés de brigar com o destino... talvez.
-Eu me sinto com 16 anos fazendo isto.
-Tua filha tem mais maturidade que tu Ana talvez tu tenha 12.
-Seu chato.
-Murrinha.
Ana prepara a maionese o arroz e a salada, enquanto Julio prepara o churrasco, Bianca faz uma caipinha, todos bebem, se divertem, por volta das 11 horas depois de muito dar risada Elena adormece na rede da varanda, Julio a pega no colo para subi-la a seu quarto.
-Se não for pedir muito, eu esperei 16 anos pra fazer isto. - Diz Vitor.
-Claro.
Vitor a pega nos braços, Ana se emociona, mas disfarça, se levanta.
-Vou levá-lo ao quarto dela. Me segue.
Eles sobem as escadas, enquanto isso Bianca e Julio resolvem ir embora para deixar os dois a sós, antes Julio deixa um bilhete a Ana.
Ana abre a porta do quarto, tira a coberta da cama de Elena, Vitor a deita, ela se acomoda, ele se senta na beirada da cama e acaricia seus cabelos, Ana se senta na cadeira da escrivaninha.
-Ela e linda né Ana?
-Sim.
-Você fez um ótimo trabalho, ela e muito especial, tem muito de você, quase nada de mim.
-Não e verdade, ela é sonhadora, corajosa, ambiciosa. Sempre fui muito pé no chão, isso me privou de ir mais longe.
-Mesmo assim olhe onde chegou.
-Imagine então onde eu poderia ter ido?
-Pode ser... mas tudo tem um motivo.
-Vamos descer?
-Vamos.
Eles descem, não encontram ninguém, Ana vê o bilhete de Julio, sorri.
-Eles foram embora.
-Mas que coisa, Agora que eu ia contar aquela piada.
Ana ri, começa a juntar a louça.
-Eu te ajudo, como antigamente.
-Como antigamente... Quer um café?
-Quero, seu café ainda e como de antigamente?
-Olha, ainda é o favorito de final de festa.
-Por que não deu certo mesmo?
-Por que você foi embora.
-Mas eu nunca quis terminar.
-Não teria dado certo a distancia, você sabe disso.
-Eu nunca tive ninguém, durante 3 anos.
-Eu também não.
-Então.
-Já faz tanto tempo... por que mexer nesta historia.
-Porque ela não terminou, ela só foi roubada de nos, o destino nos tirou ela por uns anos, mas nos devolveu agora, eu me separei por que nunca te esqueci.
-E muito comodo você me dizer isto agora.
-Eu to dizendo a verdade, me separei por que fiquei 11 anos do meu casamento tentando transformar minha ex mulher em você, querendo que ela fosse exatamente como você, até o dia que ela descobriu que eu guardava todas as tuas cartas, foi quando ela entendeu e pediu o divorcio, nem pude culpá-la, foi quando eu entendi também.
-Quando vi que ia casar achei que tinha me esquecido.
-Me casei pra te esquecer, quando te vi com o Julio, Aquela vez no seu apartamento, não sabia que ele era padrinho da Elena, na hora eu entendi que ele era seu namorado, marido, algo assim. Entendi que você tinha me substituído.
-Não e tao fácil substituir um amor Vitor, você nem me deu chance de explicar.
-Eu sei.
-E depois em Santa Catarina quando eu disse, você foi frio, me tratou tao mal, não havia mais nada o que esperar entre nós, nunca esqueci suas palavras.
-Me desculpe, sei que fui cruel. Mas me senti traído também, na hora eu entendi tudo errado, depois você me disse pra não me aproximar de vocês, eu te respeitei, por que te amava. Era isso ou você se afastaria, pra sempre.
-Provavelmente.
-Agente tem uma chance agora, não tem?
-Eu não sei.
-Deixa eu tentar?
-E muito cedo pra saber, tem muitas magoas pra serem esquecidas, também agora, tempo nós temos.
-Não vou desistir de você desta vez Ana.
-Seu café esta pronto, boa noite.
Ana vai em direção as escadas.
-O quarto de hospedes e do lado do da Elena, vou deixá-lo arrumado pra você. Até amanhã.
-Até amanhã.
Vitor observa Ana subir, toma o café que Ana preparou para ele, olha no lixo o papel que Julio havia deixado, desamassa e lê.

“Não diga não ainda, e muito cedo pra saber, a historia só termina no fim, a sua historia a recém esta no meio cara amiga, escreva seu final e que seja feliz para sempre.
                                                                        Beijos Julio e Bianca“

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Elena - Capitulo VII


-Mãe to indo.
-Tá bom.
Ana olha Elena. Julio a observa inquieta na cozinha.
-Ana... Tem certeza que não quer vir junto? – Pergunta julio.
-Claro que não, o que eu ia querer ir fazer lá?
-Bom, você que sabe.
-Sei mesmo.
-Vem dindo.- Diz Elena
Elena e Julio saem em direção ao aeroporto, Ana se encosta na bancada da cozinha, tinha vontade de ir buscar Vitor no aeroporto mas lhe faltava coragem.
-Que você acha que vai acontecer agora dindo?
-Bom, depois que sua mãe passar esse piti acho que eles vão sentar e conversar.
-Espero que seja logo.
-Que horas seu pai chega?
-As 17:30.
-Ótimo, vai dar tempo.
-De quê?
Julio da uma risada.
-Tem alguma coisa que eu deva saber? – Indaga Elena
-Você vai descobrir, pequena.
-Não entendi.
Enquanto isso na casa de Ana e Elena.
-Ana, você tá aí?
-Bruna?
-Oi amor? Vim te buscar.
-Buscar pra quê? E o quê são estas sacolas? – Pergunta Ana com cara de surpresa para Bruna.
-Meu arsenal? E vamos ao Salgado Filho.
-O quê? Onde? Como assim, o quê você está fazendo?
Bruna puxa Ana para o andar de cima e começa a esvaziar as sacolas.
-Eu não vou a lugar nenhum!
-Vai sim Ana, chega desta infantilidade, então verde ou azul?
-Qual parte você não entendeu?
-Qual parte você não entendeu, que não vou desistir?
Ana olha para Bruna, suspira abaixa a cabeça sentasse na cama, depois de alguns instantes se levanta.
-Ok, vou tomar um banho.
-Isso amiga! Temos menos de uma hora.
Ana toma um banho rápido, põe um vestido verde água, sandálias de salto alto, cabelos soltos, Bruna faz uma leve maquiagem, põem algumas bijuterias sutis, sabe que Ana não gosta de nada pesado, passa um perfume floral e as duas saem de casa em direção ao Aeroporto.
-Você tá linda, a ultima vez que te vi assim foi no meu casamento à 17 anos atrás.
-Vamos voltar isso é loucura!
-Que voltar que nada, agora vamos até o fim, coragem amiga, vai dar tudo certo.
-O que vai dar certo, o que você acha que vai acontecer?
-Acho que vai deixa-lo caidinho por você como a 17 anos atrás.
-Ai meu Deus, tu e o Ju, vou dizer, me racham a cara.
-A gente te ama sua boba.
-Eu sei.
Elas chegam ao aeroporto, correm em direção ao portão em que o voo dele esta prestes a descer, veem Elena e Julio parados de costas esperando.
-Vamos até lá? –Pergunta Ana.
-Vamos fazer assim, esperamos eles se encontrarem, é melhor a Elena ver o pai primeiro depois que eles se verem, agente se aproxima, não vamos estragar o momento deles né?
-Sim, você está certa.
-Vem, vamos à cafeteria, dali vamos ver quando ele chegar.
Depois de uns cinco minutos o voo de Vitor finalmente chega, em seguida Vitor desembarca.
Ana vê emocionada a filha correr em direção do pai, eles se abraçam e se beijam, a filha chora muito, ela vê Vitor dizer várias vezes “finalmente minha filha, eu te esperei tanto, te amo tanto”, não se contém, começa a chorar também. Bruna segura a mão da amiga.
-Vamos amiga, vamos nos aproximar.
-Melhor não, não posso.
Vitor olha em volta, Ana percebe quando ele pergunta “e a sua mãe, não veio?”, ela pensa em ir embora, mas ele a vê. Julio e Elena olham para trás, Elena se surpreende ao perceber que Ana está ali e vestida daquela forma, Julio sorri. Vitor caminha em direção a Ana, se aproxima.
-Achei que você não viria.
-Eu também.
-Você está linda.
-Você também não está tão mal.
Ela sorri.
-Seu sorriso está igual, Ana.
-Você está bem?
-Agora estou?
-Veio a passeio, pra conhecer a Elena?
-Na verdade, acho que um pouco mais que isso.
-Hum... que bom, talvez então você queira... jantar... conosco... todos nós... digo, eu e a Elena e meus compadres, lá em casa, hoje? Se quiser?
-Claro. Se importaria se eu te pedisse um abraço, afinal faz tantos anos que não te vejo?
-Abraço? Eu e você? Nós dois?
-Se não se importar?
-Não... Assim, claro que não.
Vitor a abraça devagar, Ana mal consegue se mexer. Elena, Julio e Bruna seguram as lágrimas enquanto as de Ana escorrem sem parar.
-É bom te ver, te sentir. – Diz Vitor baixinho no ouvido de Ana.
Ana se esquiva do abraço rapidamente.
-Bom vamos indo então, o transito esta hora é uma loucura. Você vai no carro do Julio com a Elena, Vitor. E eu vou no carro com a Bruna. Vamos Bruna.
Ana puxa Bruna e sai às pressas.
-O que eu, fiz o que eu fiz?
-Meu deus o que foi aquilo amiga? Que orgulho, que gato hein?
-Cala a boca Bruna, me ajuda a pensar em uma maneira de cancelar este jantar.
-O quê? Ta louca, mas nem pensar!
Bruna para Ana no estacionamento.
-Para com isso, não seja tão idiota, o amor da tua vida voltou, é lindo, doido por você e tu quer dispensar ele?
-Ai meu deus, não dá, não tem como fazer isto.
-Tem sim, eu o Ju estamos aqui e não vamos deixa-la sozinha, vai amiga, te dá esta oportunidade?
-Ta bom, mas se eu ver que não vai dar certo eu corro pra vocês.
-Ok, deixa que qualquer problema eu resolvo.
As duas entram no carro, Bruna dirige em direção à casa de Ana.



O Outro


Eu sempre tive a impressão que se eu ajudasse os outros seria recompensado de alguma forma, de certa maneira eu não estava errada, sendo assim eu sempre fui recompensada no momento que necessitei, mas como é mesmo que nós devemos ajudar? Por que ajudar não seria exatamente financeiramente, também não seria você ajudar um estranho, com comida ou com roupas aqueles que não têm.
Depois de muito pensar cheguei a uma conclusão bem simples, existe o “eu” e o “outro”, quando saímos da posição “eu” e passamos a posição “outro”, estamos verdadeiramente ajudando, digo isso porque vejo que é muito fácil pensar no nosso mundo, nossos problemas, nossas dificuldades, mas sair disto e pensar o quanto é difícil a vida do outro e como você pode ajudar, bom daí é outra história não é mesmo?
Às vezes o simples fato de doar o seu tempo a um amigo pra que ele possa chorar em seu ombro, possa ser ouvido é o suficiente, não se trata somente de ajuda física, é a ajuda espiritual, emotiva, aquela ajuda que é do fundo do coração, e que você ao ajudar também é ajudado, pois vivemos nos privando de sentimentos e emoções e ao nos por em certas situações, vemos que precisamos de ajuda também.
Então meus amigos, não sejamos egoístas, deixemos nosso orgulho de lado, às vezes é necessário que o outro venha primeiro que o eu.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Elena - Capítulo VI

"Oi filha, agora foi eu que demorei a escrever, desculpe, mas a ultima semana foi corrida, estou meio cheio de tarefas de adulto, sabe como é? Mas estou fazendo tudo correndo pois tenho que adiantar trabalho, em breve terei que fazer umas mudanças e preciso deixar tudo pronto.
Assinei meu divórcio hoje, oficialmente estou solteiro na lei dos homens, achei que ia ser mais difícil, mas sabe que até que não foi?
Minha ex, bom, acho que pôs a mão na cabeça e viu que eu só quero o melhor pra ela e pras crianças, eu gostei muito dela e que não quero deixa-la de maneira alguma desamparada e vou estar sempre a disposição. Sabe, tinha que ver, na hora do divórcio parecíamos velhos amigos fechando uma sociedade, foi bom, saudável. Depois fomos almoçar com as crianças, eles não entendem ainda o que está acontecendo, mas com o tempo... Disse pra ela que algumas coisas mudariam que eu estava correndo atrás da minha felicidade, ela me desejou boa sorte, disse que torcia por mim, fiquei emocionado, não estava esperando, a seis meses atrás estávamos brigando tanto que quando nos víamos era só gritaria, agora, nos desejamos sorte e torcemos pela felicidade um do outro, isso é bom, era assim que eu imaginava poder terminar um relacionamento que durante tantos anos me trouxe tantas alegrias.
Mas bem, trocando de assunto, falei semana passada com a Glória, minha amiga da loja, ela me contou muito querida que a senhorita é muito linda, meiga e cheia de atitude, fiquei orgulhoso dos elogios, disse que você olhou a loja inteira com muito cuidado e escolheu uma peça que combinasse com o colar que te dei, que até chegou a olhar outros vestidos, mas não combinavam com o colar e deixou eles de lado, e no fim o vestido que escolheu lhe caiu como uma luva e ficou lindo, pela foto que você me mandou ficou mesmo, espero que tenha gostado e se divertido na festa de sua amiga.
Sobre a sua mãe, pensei muito sobre o que você escreveu pra mim no ultimo e-mail, só posso lhe responder de uma única forma minha filha: Papai está se mudando para Porto alegre, chego dia 24 no voo das 17:30.
                                                                    Do seu pai, Vitor”
-Meu Deus, tu leu a ultima parte Elena?
-Li Amanda...
-E?
-Eu não sei o que dizer...
Elena sai da frente do computador e se senta na cama, em choque, fica pensando se conta pra sua mãe ou se não fala nada, se vai busca-lo na chegada...
-Que dia é hoje mesmo? – Pergunta Elena
-Dia 22 Elena. Você vai falar pra sua mãe?
-Eu não sei. Acho que vou falar com meu dindo, ele vai poder me ajudar nisso.
-Também acho.
Elena se despede de Amanda e vai pra casa, chegando vê sua mãe na varanda conversando com Julio.
-E ai princesa, isso são horas de chegar em casa?
-É que eu fui na Amanda depois do vôlei..
-Aham, se, Será que Amanda é o nome do seu novo namoradinho?
-Ai dindo não começa, já disse que eu não to namorando!
-Ta bom.
-Dindo agente pode conversar, só nos dois?
-Claro.
-Hum, cheios de segredos então? – Diz Ana.
-Coisas de adolescente, você não entende por que já nasceu velha. – Diz Julio.
-Realmente, você é uma eterna criança. – Diz Ana
-Adolescente! - Diz Julio
-Da no mesmo.
-Vamos dindo. – Diz Elena Irritada com as piadinhas da mãe.
Elena puxa Julio pelo braço e sobe as escadas correndo, liga o computador, loga-se no e-mail, vira a tela em direção a Julio e pede pra ele ler.
-Hiiiii! Ai meu Deus!
-O que você acha?
-Me deixa ler todos os e-mails?
Elena põe toda a conversa dos e-mails para Julio, ele lê atentamente, suspira.
-Tua mãe já leu isso Elena?
-Claro que não né, tá loco? Ela morria!
-Dois dias... Acho que de repente ela deveria ler. O que tu acha?
-Ai dindo não sei, a mãe já tá surtando, imagina se ela lê estes e-mails...
-Tu sabe por que ela tá surtando?
-Sei, quer dizer eu acho que sei...
-Ela descobriu que gosta do teu pai e acha que não vai ser correspondida.
-Há fala sério!
-To falando sério, mesmo, faz muito tempo e sua mãe é durona e acha que ele a esqueceu.
-Bom, durona ela é mesmo... O que será que acontece se a gente mostrar isso pra ela?
-Só tem um jeito de descobrir, pequena.
Julio liga a impressora, põem folhas brancas, imprime os e-mails, grampeia e vai em direção à porta.
-Peraí, tu vai mostrar agora dindo?!
-O Vitor vai chegar em dois dias, tu quer esperar quanto tempo mais pra mostrar os e-mails?
-Bom neste caso, eu vou dar uma banda, não quero ta perto quando ela quebrar a casa inteira.
Julio da uma gargalhada.
-Tá bom, vai levar o Tequila pra passear assim ela não desconfia.
Elena desce correndo, põem a coleira no cachorro e sai o mais rápido o possível. Ana olha Elena.
-Eu tenho que brigar todos os dias pra essa guria sair com o Tequila, o que deu nela pra ela ir tão cedo passear com o cachorro? To vendo que minha carteira vai arcar com esta boa vontade. Quer um café? Acabei de passar. O que é isso?
-Quero. Pra você, gostaria que desse uma olhada, por favor.
-Mas o que é?
-Leia.
Ana pega seu café, sentasse na sala e começa a ler, enquanto Julio a observa, aos poucos sua expressão muda de surpresa pra raiva, de raiva pra tristeza de tristeza pra desespero e novamente para surpresa, enquanto as lágrimas cobrem o seu rosto.
-Isso só pode ser brincadeira.
-Não, não é brincadeira é a mais pura verdade.
Julio se senta ao lado de Ana.
-Tu acha que eu poderia me permitir?
-Deus por que tu deixa o mais difícil pra mim? – Diz Julio olhando pra cima e com a s mão na cabeça. – Claro Aninha, tu quer ler de novo, assim quem sabe tu entende?
-Não é tão simples.
-Não? Como não é, mas é claro que é, quer que eu faça um desenho?
-Você acha que eu vou fazer o que? Vou sair que nem uma louca pro shopping, comprar roupas, sapatos, ir ao salão de beleza, fala sério Julio, não faz meu tipo.
-Por que não? O que tem errado em ser feliz, tu tá à 16 anos sozinha se escondendo atrás destas tuas roupas de lésbica.
-Não me visto que nem lésbica!
Julio olha com expressão séria para Ana.
-Talvez um pouquinho... Mas minha profissão me exige certa seriedade.
Julio continua a olhar sério para Ana.
-Ai Julio...
-Não Ana desculpa, mas, olha pra ti, tu é linda, se eu não fosse casado e apaixonado pela minha mulher á 20 anos com certeza te chamava pra sair, mas claro que não com essas roupas de lésbica.
Ana ri.
-É né, talvez seja verdade.
-Olha se quiser eu peço pra Bruna ir com você no shopping, que você acha?
-A Bruna é muito perua, vou parecer uma arvore de natal.
-Tu tá é com medo de gostar isso sim, amanhã quando tu sair do trabalho eu passo lá e te pego pra levar as duas no shopping. Eu e a Elena vamos fazer umas comprinhas também, mas pra ela que ela já me reclamou que o roller dela ta pequeno, e também eu gosto de mimá-la.
-Obrigado.
-Não agradece a mim, mas a tua filha, a responsável por isso tudo é ela caso tu não tenha percebido.
-É, minha filha só me dá orgulho.
-Que nem a mãe dela...

sábado, 8 de setembro de 2012

Elena - Capítulo V


“Oi, desculpe a demora em responder, mas estava em semana de provas e mais a festa da Amanda, por sinal é hoje, fui à loja, a mãe não gostou muito da ideia de eu ir lá e você pagar o vestido mais daí fiz uma cara de cão sem dono e ela liberou, to te mandando a foto em anexo, comprei os sapatos e a bolsa também, a moça queria que eu levasse mais metade da loja, mas eu disse que eu tinha mais roupa em casa que ela não se preocupasse, mas não se preocupe que fui educada. Falei com a mãe sobre nos conhecermos, ela disse que vai pensar, isso quer dizer que daqui um mês ela me responde...
Ela me perguntou de você, quis saber como você estava, disse a ela que estava se separando, não sei te explicar, mas de alguma maneira, ela ficou feliz. Eu sei que é estranho o que to falando, também sei que não tenho que me meter, mas acho que a mãe tem algum sentimento guardado ainda, tá assim bem escondido até porque ela é durona. Mas tem.
Pena que você mora tão longe.
Eu sei que sempre te faço uma pergunta, mas, se você tivesse uma chance com ela, tentaria?
Porque eu tenho 16 anos, tenho lembranças tipo, desde os 6 acho, e nunca vi a mãe namorar, nem ouvi falar sobre isso, acho que ela tá todo este tempo sozinha, fiquei pensando se é por sua causa, na verdade eu sempre pensei que ela não tinha casado de novo por que ela ainda te amava, mas depois tirei isso da cabeça, mas, com o que aconteceu no dia que ela me perguntou de você, voltei a pensar na hipótese. Também não quero criar falsas esperanças, mas eu quero que vocês sejam felizes, e sei que a minha mãe está a muitos anos infeliz neste aspecto. Talvez você possa me ajudar nisso, seria um ótimo presente pelos últimos 15 anos.
                                                                       Da sua filha, Elena”

-Não é possível...
Vitor se levanta da frente do computador, põem as mãos na cabeça, caminha de um lado ao outro, pensa, o que ele pode fazer, será que realmente existe uma esperança?  Se existir ele sabe que vale apena lutar, por que ela sempre valeu apena, mas como?
Ele pega o celular, faz uma ligação. Sai correndo e vai à promotoria.
Chega lá e pede para falar com seu superior.
-Sim senhor Vitor?
-Podemos falar Carlos, é importante?
-Vejo que é mesmo, parece nervoso, o que houve? Sente-se.
-Preciso de uma transferência.
-Transferência? Como assim pra onde?
-Porto Alegre.
-Porto Alegre, mas a troco, por que pra lá?
-Você tem tempo?
-Estou saindo pro almoço, tenho 1 hora.
-Acho que vai ser o suficiente.
Na volta do almoço
-É isso Carlos, Preciso conhecer minha filha, resgatar o amor dela, e se Deus me permitir o da mãe dela.
-Nossa que história, daria um belo livro.
-Eu sei, mas é bem real.
-Olha Vitor, você é meu melhor promotor, o que mais trabalha aqui, nos últimos anos eu precisei de você e não me faltou, além disso fora daqui é um grande amigo. Me dê duas semanas. Logo estará em Porto Alegre, eu lhe prometo, tenho meus contatos.
-Obrigado Carlos, sabia que eu poderia contar com você.
-Sempre que precisar.
Vitor volta pra casa, aliviado sabe que agora poderá arrumar uma maneira de rever Ana e conhecer sua filha Elena, talvez possa ser feliz, e isso faz com que ele finalmente queira ter motivos para lutar.
Enquanto isso em Porto Alegre, Ana e Elena discutem.
-Mas mãe porque você não me dá uma resposta definitiva?- grita Elena
-Não grita comigo Elena, sou sua mãe e me deve respeito!
-Grito sim por que você está me desrespeitando.
-Não estou te desrespeitando, mas isso é absurdo!
-Absurdo por quê?
-Porque sim!
-Porque sim não é resposta!
Julio e Bruna, dindos de Elena entram em casa, Julio grita.
-Chega! Dá pra ouvir essa gritaria da esquina, o que está acontecendo?
-Dindo a mãe não quer que eu conheça meu pai!
-Não foi isso que eu disse.- Dispara Ana
-Elena, vá para seu quarto, acalmasse e conversamos mais tarde.
-Mas dindo, olha só...
-Não, não quero ouvir, suba e me obedeça.
-Tá, eu vou subir.
-Eu vou subir com você, querida. – diz Bruna
As duas sobem, Ana se senta, limpa o rosto com as mãos. Julio a olha.
-O que diabos pensa que está fazendo?
-Protegendo minha filha?
-Tem certeza? Será que não está protegendo a si mesma?
-Não me venha com lição de moral, eu não to com disposição.
-Mas eu sim e você vai ouvir, faz tempo que to te observando, desde que esta história começou que você está estranha, o que está acontecendo?
-Não quero que ela se machuque só isso, você não é PAI não me entende!
-Obrigado por me lembrar...
-Não, desculpe, Julio volte aqui...
Julio sobe, Ana fica sozinha na cozinha, chora. Em seguida Bruna desce.
-Cumadre, você está fazendo tudo errado.
-Eu sei...
Bruna abraça Ana.
-Nos somos amigos desde a o cursinho, queremos ajudá-la. Mas você tem que se permitir. E a Elena, ela tem esse direito, só que você não pode priva-la porque você está com medo.
-Eu sei.
Então me prometa que vai dar esta oportunidade pra pequena, ela não tem nada com a história de vocês dois, ela é o fruto do amor de vocês, e esse amor anda vive, ai dentro. Só que se você não quer deixar sair não pode penaliza-la por isso.
-Eu sei.
As duas ficam um tempo abraçadas na cozinha, Ana chora muito. Depois sobe pra conversar com Elena. Quando chega a filha está quase adormecendo.
-Elena, está dormindo?
-Ainda não...
-Você pode conhecer seu pai, mas se por algum motivo ele a magoar, você sabe que vou bater de frente com ele não sabe?
-Sei, mas sei também que ele não vai me magoar.
-Só não quero que você se magoe...
-Eu sei mãe...
-Eu te amo minha filha, agora volte a dormir, boa noite.
-Eu também te amo mãe, boa noite.
Ana sai do quarto, Julio esta sentado nas escadas, com duas taças de vinho.
-Você foi muito dura hoje.
-Desculpe.
-Eu te perdoo, sei que não foi intencional, eu entendi o que você quis me dizer, venha cá, sente-se ao meu lado.
Ela senta-se na escada, ele passa o braço em volta de seu ombro.
-Você tem que ser menos durona, relaxa um pouco.
-Como você?
-É, como eu... – Os dois dão algumas risadas.
-Você o ama ainda Ana?
-Eu não sei ao certo?
-Se ele voltasse agora e falasse que quer ficar com você o que você faria?
-Isso não vai acontecer...
-O meu Deus Ana, viaja comigo...
Ana ri.
-Acho que eu ficaria fortemente tentada. Vocês me apoiariam?
-Se você fosse feliz. Nós só queremos que você seja feliz...

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Elena - Capítulo IV


“Oi, sabe é engraçado ler a sua auto descrição, me lembra de uma pessoa: eu mesmo, só que na adolescência, eu era exatamente igual, também tinha uma banda, por falar nisso vi o link com os shows, vocês fazem um grupo bem interessante e você canta e toca muito bem. Mas posso dar uma pequena sugestão, erga a cabeça, você tem um sorriso lindo e parece tão escondida e encabulada no palco, mas parece ter um potencial  tão grande.
Sobre o colar, sim ele tem mais de 100 anos mesmo, era da minha avó, meu avo fez pra ela em 1881, presente de casamento. È uma joia de família, apenas as mulheres primogênitas recebem os filhos primogênitos quando não nasce mulheres naquela geração, meu caso. Minha ex-esposa me cobrou a anos que eu desse a Alice, mas nunca pertenceu a ela, sempre foi seu, mas nunca pude lhe contar a verdade, ela nunca aceitaria, mas agora está com você e fico feliz que você já pretende usá-lo. Pena não poder ter a honra de por em seu delicado pescoço. Você já escolheu o vestido? Se precisar de ajuda to te enviando o site da minha amiga em Porto, ela já está avisada que irá, escolha o que quiser não se preocupe com o valor, eu irei pagar. Pegue o endereço e diga que é minha filha, ela irá lhe orientar.
Você havia me perguntado mais alguma coisa... Não consigo lembrar... Há sim lembrei, se eu quero conhecê-la? Bom, primeiro teríamos que conversar com sua mãe, jurei a ela que jamais faria algo sem o consentimento dela, mas é de meu desejo sim, você acha que nós poderíamos providenciar isso?.
                                                                Do seu pai, Vitor.”

-E agora Amanda?
-Ele quer te conhecer.
-Eu sei, mas não sei se a mãe vai deixar né?
-Olha, a tia Ana é tri, acho que ela vai liberar, mas conversa com calma.
-É... Mas deixa te contar uma coisa que esqueci.
-O que? Fala logo?
-Hoje no café da manhã a mãe perguntou se eu tava falando com o Vitor, Pai, eu ainda não sei como chama-lo.
-Normal, chama de Vitor, depois aos poucos né?
-Melhor, também acho. Então, ela queria saber como ia a vida dele, quando disse que ele se separou tu acredita que ela se engasgou?
-Como assim, não entendi?
-Ai sua tonta, ela tipo chocou sabe, como se ela tivesse tido um raio de esperança, assim, nos e-mails do Vitor ele me afirmou que ama a mãe, mas ela nunca me disse o que sente por ele.
-Você acha...
-Ainda não tenho certeza, mas, que ela ficou balançada... Isso ela ficou, tenho certeza.
-E o que esse cérebro borbulhante ta planejando?
-Na verdade enquanto não tiver certeza não posso fazer nada, mas quando eu tiver, eu acho que vou dar uma mãozinha.
-Eu acho que você não tem que se meter.
-Não vou fazer nada de mais, só fazer com que se encontrem, se eles se gostarem, o resto acontece naturalmente.
-Bom, sabe né amiga, você sempre vai ter eu aqui se precisar.
-Eu sei por isso te amo.

Enquanto isso na casa do pai de Ana.
-Então ele está separado minha filha?
-Sim pai.
-E o que você está sentindo sobre isso?
-Como assim, não to sentindo nada, por que sentiria algo, eu não tenho por que sentir, não há motivos, que besteira.
-Então por que está nervosa e respondendo desta maneira? Falando tão rápido?
-Bobagem pai. Vou tomar mais uma taça de vinho.
-Hum... Acho que no fundo meu anjo, nestes anos todos você nunca o esqueceu...
-Claro que o esqueci!
-Então porque nunca se casou, namorou, nunca te vi com ninguém?
-Eu sou apenas discreta.
-Então qual o nome do seu ultimo namorado?
Alice olha fixamente para o pai, durante alguns segundos pensou com um rosto tenso, ate começar a se tapar de tristeza e as lágrimas invadirem os seus olhos, ela foi abaixando o olhar e lembrando que está a 16 anos impondo barreiras para que ninguém se aproxime, pois acreditou que assim não se magoaria, mas na verdade talvez estivesse apenas se guardando, se guardando para ele.
-Venha cá minha filha, nunca se é velho o bastante para receber um colo de pai.
-Papai...
Ana senta no colo do pai e chora compulsivamente, como pode não perceber o quanto amava a Vitor, porque ela guardou este sentimento, porque nunca se deixou envolver, nunca se permitiu? Ela merecia ser feliz e sabia disso, mas agora a situação havia mudado, será que ela podia sonhar com uma possibilidade, ela não podia esperar que ele sentisse o mesmo.
Ela podia se dar o direito a essas esperanças...
-Eu tenho que ir pai.
-Aonde você vai filha?
-Preciso pensar, ficar sozinha, ligo depois.
Ana caminha até o Gasômetro, olha o rio, observa as pessoas, os casais, senta-se no gramado e assiste o por do sol, enquanto as lágrimas escorrem do seu rosto, sua vontade é ligar para Vitor, pedir para vê-lo, mas sabe que não pode agir como se tivesse a idade de Elena, sua cabeça está confusa, desorientada, ela quer fugir, ficar só, chorar... Precisa encontrar seu centro novamente.


domingo, 2 de setembro de 2012

Elena - Capítulo III


“Oi, então, chegou seu presente aqui, lindo o colar, gostei muito, parece que tem uns cem anos mas ainda assim é lindo, talvez eu use na festa da minha amiga Amanda, ela faz aniversário semana que vem, vai debutar.
Você me perguntou como eu sou, bem é difícil dizer, eu não sou boa com auto descrição, então pedi pra Amanda, minha melhor amiga, me dizer como ela acha que eu sou, ela me descreveu como uma boa amiga, sincera e sempre na minha, não sou do tipo que tem um monte de amigos... Bem na real tenho a Amanda e o Artur e a minha mãe que não conta, tenho o meu cachorro Tequila, os meus dindos e acho que só isso. Eu toco numa banda, me dou bem com todos os meninos mas não somos melhores amigos, o Artur toca comigo é guitarrista e eu sou voz e baixo, a Amanda é tecladista e tem mais o baterista se chama Rafael e vivo incomodando ele, o outro guitarrista e meio sinistro, ele é gótico, chamasse Bruno. Tocamos sempre nas festas da escola e em alguns eventos no clube da cidade, temos até um fã clube, vou te mandar uns links de uns shows nossos, vê se você vai curtir, também componho todas as músicas da banda, estamos a 2 anos juntos e nunca nos separamos nesses anos . Mesma formação, mesmas regras.
Eu sou como a Amanda diz bem na minha, costumo andar com meu caderno pra cima e pra baixo, hora desenhando, hora compondo, se não to com a Amanda to com o Artur. Não tenho inimigos, sou boa aluna, ajudo todo mundo que precisa de mim, mas também não saio por ai oferecendo ajuda, sabe? Sou tímida, envergonhada. Até porque já chamo muita atenção com a banda e o vôlei. Esqueci do vôlei, jogo no time da escola, estamos no campeonato estadual . Mas é isso, não sou uma pessoa super emocionante, tenho uma vida comum, fora a banda sou só mais uma aluna da escola, uma vizinha do bairro e uma adolescente em casa, só que não sou rebelde e não do tantos problemas pra minha mãe, só a mãe que me dá problemas, agora até que não, mas antes vivíamos mudando, faz dois anos que moramos em Porto Alegre, mas já morei numas 5 cidades nos últimos 8 anos, foi bem difícil mudar de escola e fazer amigos, a mãe explicava que precisava pra poder ganhar mais dinheiro, quando conseguiu ser promovida pra juíza ficou aqui em Porto mesmo, eu preferia ter ficado em São Borja que era mais calmo, mas a mãe disse que era um lugar mais limitado sem oportunidades, na época também eu tava virando mocinha e descobrindo essas coisas de amor, eu tinha me apaixonado e tive que vir embora, foi difícil, agora entendo que era nova que passa, que sempre passa e que vou me apaixonar muitas vezes ainda até ter um amor que nem o teu e o da mãe, assim pra sempre.
Sabe, quando eu tinha uns 7 anos, eu tava acho que na 2º série, teve uma apresentação na escola e era de dia dos Pais, daí o Vovô foi. Quando nós chegamos a minha colega me disse : “seu pai é velhinho né?”, eu respondi: “não é meu pai, é meu avô”, ela me olho uns instantes e respondeu novamente “tadinha de você não tem papai, que triste, se quiser empresto o meu”,  nossa fiquei arrasada, pedi pro Vovô me levar embora, chegando em casa eu perguntei porque não tinha papai, foi a primeira vez que ouvi a frase que me perseguiu a vida toda: “quando você tiver idade pra entender você vai saber de toda a verdade a minha filha, mas você tem pai sim, ele não está aqui mas ele existe ok?”.
Na época eu fiquei confusa e demorei uns anos pra entender eu confesso, mas, lá pelos 11 caiu a ficha, na verdade comecei a achar que você tinha morrido, depois que tinha abandonado a mãe, e daí criei uma série de versões de como vocês se conheceram, se afastaram, porque se afastaram, era confuso, difícil aceitar que não tinha pai, eu tinha inveja das minhas colegas, odiava o dia dos pais, natal, qualquer coisa que pudesse lembrar família reunida, com pai , mãe e filhos.
Eu sei que eu era infantil, mas foi o jeito que achei de me defender, depois quando passou um tempo o dindo me chamou pra conversar e me disse que eu tinha que para de fazer especulações, que a história era muito triste e que tudo foi feito pra me proteger e que eu saberia um dia. Que tinha que confiar na minha mãe. Entendi que tudo tinha uma hora, que teria que aguardar a minha, virei essa pagina e fui viver. Foi melhor assim, bem melhor, me livrei de pensamentos atormentadores. Mas principalmente da raiva que tava acumulando dentro de mim, raiva desnecessária. Hoje sou mais leve, o tempo passou e não senti falta desta história, as vezes pensava mas de maneira menos agressiva, sabia que chegaria mais cedo ou mais tarde, parei de esperar simplesmente e... Chegou. Acho que a mãe escolheu o momento certo. Eu não tenho mais medo, raiva, dúvidas... Tenho curiosidade admito, de conhecê-lo, de saber desta parte da minha história, mas não julgo ninguém.
Só tenho uma dúvida, eu tenho uma grande curiosidade em conhecê-lo, e você tem também de me conhecer?
                                                                   De sua filha, Elena.”
-Bom dia mãe.
-Bom dia filha.
Alguns minutos de silêncio. Ana olha atenta enquanto Elena da comida para o cachorro Tequila.
-Lindinho da mamãe, gordo fofucho, vai virar uma bolinha assim, vamos correr hoje tá? – Elena fala pra Tequila.
-Filha, tem falado com seu pai?
-Aham...
-E?
-E o que?
-Como assim? O Que você tem falado com ele?
-Nada de mais mãe, coisas.
-Você não vai guardar segredos pra mim agora né?
-Ai mãe, não! Não pira! A gente tá se conhecendo, ele fala dele ele e eu de mim.
-Hum... E... O que ele disse dele?
-Nada demais, disse como a vida dele está hoje.
-Hum... Está bem espero.
-Mais ou menos, está se separando.
Ana meio que engasga. Tosse um pouco. Elena pega um pouco de água e alcança a mãe.
-Credo mãe, ta parecendo criança se afogando com pão.
-Acontece filha, mas continue, ele esta se separando?
-Sim, assim na verdade, ele já se separou faz uns 8 meses parece, agora falta o divórcio, mas não sei quando sai.
-Hum... E ele disse por que se separou?
-Não.
-Hum...
-Mas porque quer saber mãe?
-Não, nada, curiosidade... Só curiosidade.
-Aham... Ok, eu tenho ensaio hoje, posso dormir na Amanda?
-Pode sim.
-Vai sair?
-A sim vou, vou ao seu avô.
-Tá manda um beijo pra ele.
-Amanha esteja em casa as onze, vamos fazer um almoço, seus dindos vêm pra cá.
-Tá bom beijo.
Elena beija a mãe e sai correndo para a casa da amiga. Enquanto isso Ana só consegue pensar em uma coisa, Vitor está separado.