terça-feira, 24 de julho de 2012

Estação Central - Parte I

-Moça? Você está bem?
-Como? Ham? Por quê?
-Bom já passou dois trens e a senhorita esta parada ai olhando para o nada, não queria incomoda-la, mas... Preocupou-me um pouco...
Alice ergueu o rosto, olhos inchados, a boca rosada, cabelos um pouco bagunçados, olhou atentamente aquele senhor calvo em sua frente e somente sorriu, sem dizer mais nada, entrou no trem que acabara de chegar.
Sentou-se a janela, olhando o sol  se pôr no horizonte e começou a imaginar como iria ser a sua vida de agora em diante, tudo que ela tinha fora perdida, sua casa, sua familia, sua inocência, ficou apenas a lembrança...
-Moça, você está bem?
-Mas que saco todo mundo vai me perguntar isso hoje!
Alice, brava, se virou para a voz que falava com ela, um rapaz alto, pele clara, bonito, passava certa paz, ele sorriu meio que envergonhado e sentou-se ao lado dela.
-Desculpe, não queria te incomodar, mas... Você está me parecendo triste, achei que talvez quisesse conversar, para onde você esta indo?
-Que diferença faz? – disse indiferente.
-Talvez seja a mesma estação que eu vá descer...
-Vou descer na Estação Central.
-Olha, mas que conhecidência, eu também... Meu chamo Luis Furtado, qual o seu nome?
-Alice.
-Sabe você não me é estranha, será que nos não nos conhecemos?
Alice riu, e com um ar debochado indagou:
-Mas que cantada velha essa né, por favor, me poupa disso...
Luis sorriu, abaixou os olhos um pouco envergonhado, passou a mão no cabelo, ajeitou a gravata:
-Então Alice, eu não estou dando em cima de você, na verdade você nem faz meu tipo, mas realmente tenho impressão de já ter te visto.
Alice tapou-se de vergonha, até corou.
-Desculpe, mas acredito que não nos conhecemos, eu lembraria com certeza... E você também não faz meu tipo. - disse com certa rispidez.
-Ok, Ok... Talvez eu tenha me confundido... Ou talvez não?
Luis pegou a pasta que trazia e puxou o jornal, ali estava a noticia: Catástrofe, incêndio mata mais de 10 pessoas, única sobrevivente perde tudo. Abaixo do titulo da notícia, uma foto da casa em chamas, outra da família de Alice (cerca de 10 pessoas) e ela, com o rosto sujo ainda do incêndio e puro desespero.
Luis entendeu o que tinha acontecido, não sabia como continuar a conversa, ficou constrangido, sabia bem o que era não ter família, queria ampara-la mas não queria deixa-la assustada.
-Lembrou? Lembrou-se de onde me conhece agora? Com o jornal fica mais fácil né?
-Eu sinto mui...
-Não diz nada, não diga que sinta ou que entende você não entende, não sabe o que aconteceu e nem como aconteceu, não sabe - as lágrimas brotaram de seus olhos, era inevitável tentar conte-las.
Luis pegou seu lenço, segurou o queixo dela e virou em sua direção, limpou as lágrimas e a abraçou, era tudo que ela precisava naquele momento, ela estava no fundo do poço, e então era como se alguém tivesse lhe jogado uma corda.
-Você tem para onde ir?
Alice se afastou, limpou os olhos:
-Ainda não sei, para a capital eu acho, a família tinha muito dinheiro, dentro de um mês ou dois eu posso administrar o que herdei, ate lá, tenho umas economias, vou achar alguma coisa na capital, um hotel ou uma pensão... Ainda não sei, vou esperar lá, só sei que pra aquela cidade eu não voltou nunca mais. - Alice olhou pela janela, enquanto se afastava de sua cidade natal.
-Bom eu... Eu acho que posso ajudar, minha família tem uma rede de hotéis na capital, um deles sou eu que administro você pode ficar lá até resolver tudo, seria uma honra ter uma Montes em meu hotel.
-Eu agradeço, eu que sempre odiei meu sobrenome, finalmente me serve de algo, não é mesmo?- Alice olhou para Luis e sorriu, Luis ficou admirado ao ver aquele sorriso, era lindo, quando ela sorria, fechava um pouco os olhos, o nariz parecia desenhado, ele pode observar que ela tinha os olhos amendoados, o pescoço longo, era quase perfeita, apesar de aparentar pouca idade transpassava muita maturidade e segurança, ela sabia que ela tinha por volta de 20 e poucos anos, sua família era riquíssima, tinham o maior vinhedo da região, ela era uma jovem solteira, sem família e abandonada, ele sabia que se interessasse por ela poderia parecer que ele estava interessado apenas em seu dinheiro, mas... Como não admirar aquela bela moça, sua pele era como uma seda, intocada, pura, irresistível.
-Senhor, o seu olhar está me incomodando!
-Desculpe, não queria lhe incomodar... Está com fome? Esta na hora do almoço e podemos ir ao restaurante do trem, o que acha?
-Pode ser...
-Só limpe o rosto, para as pessoas de lá não ficarem te olhando, sabe como são estes urubus, nos temos dois dias de viajem ainda, se tiverem que te ver, que não seja assim não acha?
-Concordo, irei ao toalete, se poder me aguardar?
-Claro, o quanto for necessário.
Alice o olhou, pensou na frase que ele acabara de dizer, será que ela tinha entendido errado, havia certo interesse daquele jovem rapaz nela?

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