-Alô dindo?
-Fala Elena que aconteceu, são 5
da madrugada e você me ligando, tá tudo bem?
-Tá tudo ótimo, maravilhoso, nem
sabe o quanto...
-Não to entendendo?
-Fui à cozinha tomar agua e
passei no quarto de hospedes pra ver se meu pai estava dormindo bem, se
precisava de algo.
-Sim, sim, e?
-E que ele não tá no quarto de
hospedes, nem na sala, nem na cozinha mas a carteira dele tá na sala, junto com
o celular.
-Hum, acho que to começando a
compreender.
-E o quarto da mãe tá chaveado,
eu acho que eles estão juntos.
-Ótimo, mas me escuta você vai
fazer de conta que não viu nada, deixa que eles te falem, não sei ainda se eles
vão ficar juntos.
-Claro que vão, se estão dormindo
juntos reataram, não é?
-Calma princesa, os adultos são
complicados, não antecipa as coisas ok? Vai dormir, é cedo ainda, se eles não
comentarem nada você não comenta também.
-Tá eu vou tentar, mas não
prometo boa noite.
-Bom dia né, dorme bem.
Elena desliga o telefone, tenta
dormir, mas não consegue, fica pensando como seria se seus pais reatassem, ela
finalmente teria a família que ela desejou tantos anos.
Mais tarde ela ouve Vitor saindo
do quarto de Ana, pé por pé, ela se esconde pra não ser avistada, Ana esta na
porta do quarto diz algo pra Vitor, mas ela não consegue entender, Vitor
responde somente com um sim. No café da manhã...
-Bom dia Pai.
-Bom dia Elena. - Vitor sorri,
Elena ainda não o tinha chamado de pai tão naturalmente.
-Bom dia mãe. –Diz Elena com um
olhar de suspeita.
-Bom dia, você está bem, nunca
acorda de bom humor?
-Tô sim mãe, só estou feliz, a
família assim reunida, todo mundo se dando bem, parece propaganda de margarina.
Ana e Vítor dão risadas.
-Só você mesmo Elena. - Diz
Vitor.
-E você dormiu bem pai?
-Dormi sim, muito bem por sinal.
– Ele desvia o olhar pra Ana que com um olhar lhe grita pra disfarçar.
-Hum, e você mãe, dormiu bem
também?
-Dormi sim, porque tanto
interesse em como nós dormimos? – Retruca Ana desconfiada.
-Não só pra saber mesmo, vou
levar o Tequila pra passear, vou demorar umas 2 horas tá, se comportem.
Ana trava, Elena sai correndo pro
jardim e põem a coleira em Tequila. Ana olha pra Vitor.
-Você acha que ela viu alguma
coisa?
-Não se não perguntaria.
-Não sei ela tá estranha, tem
alguma coisa errada...
-Bom ela disse que temos 2 horas,
bem que podíamos aproveitar este tempo.
-Vitor comporte-se, nós já
conversamos, aqui não!
-Ok, vamos pra um motel então.
-Tá louco eu num motel? Nem
pensar.
Vitor começa a se aproximar de
Ana, ela ao mesmo tempo se afasta a cada passo que ele dá em sua direção.
-Vitor para, eu não quero.
-Tem certeza que não, mesmo, só
tem nós aqui, hum?
-Eu já disse...
Os dois ouvem uma buzina, é
Julio.
-Ana, Vítor, vocês estão aí?
-Na cozinha. – Grita Ana.
Julio chega à cozinha, olha o
casal meio esquivado, sem graça.
-Vocês estão bem?
-Claro. –Ambos respondem juntos.
-Aham, então por que estas caras
de apavorados?
-Não tem ninguém apavorado, é
impressão sua. –Diz Ana
-Vitor, tá a fim de jogar uma
bolinha, tem um jogo agora de manhã, falta um.
-Claro, vou me arrumar e já vamos.
Vitor sobe pra se arrumar, Julio
fica olhando Ana.
-Então dormiu bem?
-Mas outro, tu e a Elena me
tiraram pra saber do meu sono hoje.
-E você chegou a dormir?
-O que, claro, que pergunta.
-Então por que esta cara de
culpada, vocês dormiram juntos?
-Não! Claro que não, cada um
dormiu no seu quarto.
-Sim, transaram e foram pros seus
quartos?
-Não, para com isso Ju, to
dizendo que não houve nada.
-E você pretende ficar me dizendo
por quanto tempo esta mentira.
-Não é mentira!
-Olha tua cara de feliz, e a dele
de satisfação, não que quisessem conseguiriam disfarçar.
Ana fica em silêncio uns
instantes.
-Tá tão na cara assim?
-Com letreiro luminoso? Me conta,
reataram?
-Não, eu to confusa, não sei se é
certo, tem os filhos, a Elena a recém tá se acostumando, eu ainda tenho dúvidas
sobre uma série de coisas.
-Eu imagino, mas posso dar uma
dica, não pensa muito tá? Da ultima vez teu pensamento te afastou do cara, não
vai fazer esta burrada de novo.
-Eu sei, to pensando. Só isso.
-E ele?
-Ele só quer que fiquemos todos
juntos, unidos, já disse que vai procurar uma casa aqui por perto. Eu ainda não
sei nem o que a Elena vai pensar disto.
-A Elena vai adorar é tudo que
ela mais quer.
-Eu tenho que ver ainda, acho que
ele tá descendo.
Vitor chega à cozinha.
-Vamos?
-Claro, tchau Ana.
-Tchau pra vocês dois, bom jogo.
Ela observa enquanto eles saem,
senta-se na varanda e toma uma xicara de café.
Julio e Vítor estão a caminho do
jogo.
-Então Sr. Vitor, como estão as
coisas?
-Bem, eu acho, poderia estar
melhor...
-Você gosta mesmo da Ana né?
-Sim, muito, dá pra perceber?
-De longe, a Elena viu você
saindo do quarto da Ana.
-Aí meu Deus, a Ana vai ficar
doente quando descobrir!
-A Elena não vai contar, disse
pra ela não dizer nada até a Ana entrar no assunto, até por que imagino que ela
deve ter pedido pra ficar isto entre vocês.
-Exatamente.
Julio para o carro. Vira-se para
Vitor.
-Cara, você parece bacana, acho
que vai cuidar bem das duas, mas posso dizer uma coisa?
-Claro que pode.
-Chega na casa da Ana, pega as
suas coisas e vai pra um hotel.
-Não entendi?
-A Ana é a mulher mais complicada
que eu conheço, mas felizmente a conheço a um tempo razoável pra saber que ela
tá bem confusa e vai querer ficar só.
-Hum, sei...
-E se você sair de lá agora ela
vai ficar com grandes dúvidas, talvez ela vá atrás de você daqui uns dias...
Mas tem que dar tempo a ela.
-Acho que eu estou entendendo
aonde quer chegar, quer que eu saia pra ela sentir falta?
-Exato, mulher quando se sente
ignorada de alguma forma, procura. Na verdade homem também é natural do ser
humano.
-E se ela não procurar?
-Dá um tempinho pra ela, faz o
que eu to te dizendo, vai ver que vai ter um baita resultado.
-Ok, como também não tenho ideia
melhor, vou seguir teus conselhos.
Julio o Vítor continuam em
direção ao jogo, duas horas depois Julio o larga na casa de Ana.
Ana está no jardim, tomando um
chimarrão enquanto meche no computador.
-Oi.
-Oi, não vi tu chegar.
-Estou vendo, tá concentrada.
-Trabalhando.
-Estive pensando, acho melhor eu
ir pra um hotel, segunda minha nova residência tá pronta e não quero te dar
trabalho.
-Não precisa ir embora, pode
ficar até segunda.
-Não, acho melhor eu ir, você
precisa pensar, eu também, vai ser melhor pra nós dois.
Julio da um beijo carinhoso no
rosto de Ana e sobe pra arrumar as suas coisas.
Alguns minutos depois Ana sobe
pra falar com ele.
-Sério, pode ficar. Não precisa
sair assim.
-Tudo bem, não se preocupe, tá
tudo bem mesmo.
-É que parece que você está... Fugindo
de mim.
-Não disse isso, eu só não quero
te pressionar. Tá tudo pronto logo meu taxi tá chegando, você pode me ajudar?
-Claro.
Ana e Vítor descem as escadas, logo
o taxi chega, eles se despedem e Vitor vai embora.
-Mãe, cadê vocês?
-Filha, to aqui na frente.
-E o pai, saiu?
-Não foi pro hotel.
-Por quê? Você o mandou embora?
Não acredito que fez isso?
-Não o mandei embora, ele que
decidiu ir, não entendi o porquê também.
-Não tô entendendo nada, você
disse alguma coisa tenho certeza, vocês estavam tão bem, até dormiram juntos,
eu o vi saindo do seu quarto.
-O que, você viu? Como assim?
-Eu vi tá ok? Vocês iam reatar
por que ele se foi?
-Olha Elena, eu nunca disse
voltaria pro Vitor, também não sei porque ele se foi, mas você tem que parar de
criar expectativas, as coisas não funcionam como você quer.
-Já entendi, e já sei por que ele
foi embora.
-Eu não sei o que você sabe, mas
está enganada, Elena volta aqui.
Elena sai correndo e sobe as
escadas pro quarto. Ana suspira, agora será a vez de ela aguardar.
Dois meses se passam, Elena vai
ver o pai quase que diariamente, quinzenalmente ele vai ver os filhos no Rio de
Janeiro, em uma das vezes Elena vai junto, conhece os irmãos e a família de
Vitor, Ana observa a distância, enquanto conversa inúmeras vezes com os
compadres e o pai. Está cada vez mais confusa, sempre que o vê ele é doce,
educado, mas não se aproxima. Ana não entende o que fez de errado, mas também
não tem coragem de se aproximar, de procura-lo. Sabe que de certa forma é a vez
dela de tentar uma aproximação, afinal ele se mudou pra perto dela, a procurou
e ela sempre manteve bem claro que não sabia se era aquilo que queria, talvez
ela vá ter que dar este passo, mas vai ter que se preparar para isso.
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